02 julho 2011

Alzheimer, eu sem mim



SOBRE ALZHEIMER: A doença de Alzheimer instala-se quando o processamento de certas proteínas do sistema nervoso central começa a dar errado. Surgem, então, fragmentos de proteínas mal cortadas, tóxicas, dentro dos neurônios e nos espaços que existem entre eles. Como conseqüência dessa toxicidade, ocorre perda progressiva de neurônios em certas regiões do cérebro, como o hipocampo, que controla a memória, e o córtex cerebral, essencial para a linguagem e o arrazoamento, memória, reconhecimento de estímulos sensoriais e pensamento abstrato. Estudos publicados na década de 1980 mostraram que a proteína que se acumula dentro dos neurônios (tau) dos doentes com Alzheimer, é diferente da que se acumula nos espaços existentes entre eles (beta-amilóide). A proteína beta-amilóide se deposita em placas que causam destruição de neurônios por criar processo inflamatório crônico nas regiões afetadas, interferir com a regulação de cálcio, essencial para a condução dos estímulos nervosos, e aumentar a produção de radicais livres, tóxicos para as células nervosas.

SIGNIFICADO DO TERMO DOENÇA DA ALMA: - ‘Psique' - conceito grego de "si-mesmo", abrangendo idéias modernas de alma, ego e mente. A expressão ‘psique' era usada como sinônimo de VIDA, tendo como sinônimo "ALMA". Essa "alma" abrange todos os pensamentos, tantos os conscientes como os inconscientes. A doença de Alzheimer descaracteriza a pessoa. Despersonifica o ser humano. Tira-lhe todo o conjunto de normas e conceitos éticos adquiridos ao longo de sua existência. Mudam a personalidade de forma assustadora.

SIGNIFICADO DE DEMÊNCIA: Enquanto na linguagem popular a palavra demência tem a conotação de loucura, em medicina é usada com o significado de declínio adquirido, persistente, em múltiplos domínios das funções cognitivas e não cognitivas. O declínio das funções cognitivas é caracterizado pela dificuldade progressiva em reter memórias recentes, adquirir novos conhecimentos, fazer cálculos numéricos e julgamentos de valor, manter-se alerta, expressar-se na linguagem adequada, manter a motivação e outras capacidades superiores. Perder funções não cognitivas significa apresentar distúrbios de comportamento que vão da apatia ao isolamento e à agressividade. Doença de Alzheimer é a forma mais comum de demência neurodegenerativa em pessoas de idade.

MANIFESTAÇÕES NEUROPSIQUIÁTRICAS A SEREM OBSERVADAS: Falta de memória para acontecimentos recentes; Repetição da mesma pergunta várias vezes; Dificuldade para acompanhar conversações ou pensamentos complexos; Incapacidade de elaborar estratégias para resolver problemas; Dificuldade para dirigir automóvel e encontrar caminhos conhecidos; Dificuldade para encontrar palavras que exprimam idéias ou sentimentos pessoais; Irritabilidade, suspeição injustificada, agressividade, passividade, interpretações erradas de estímulos visuais ou auditivos, tendência ao isolamento.

QUANDO RECONHECER OU NÃO OS SINTOMAS: Os sintomas às vezes compõem um "conjunto de atitudes" do comportamento, sinais que passam despercebidos diariamente. As pessoas se detêm apenas ao fato da perda da memória quando alguém não consegue lembrar uma data, o nome do sobrinho ou seu próprio telefone. E enquanto ele, o doente, puder lhe enganar usando de estratégias para que você não perceba essa falha na memória, muita coisa já aconteceu. Dá desculpas que não fez algo ou não foi ao trabalho ou não pagou o que devia porque não teve tempo. Vestiu a mesma roupa suja há três dias seguidos, às vezes descosturada ou rasgada e diz que não encontrou outra melhor, estava com pressa. Tem sempre desculpas. E você não percebe essa negligência da parte dele com as tarefas do dia-a-dia. Só quando realmente ele fizer coisas que chamem muita atenção! E esses "sinais" podem levar anos.

PREVALÊNCIA NA POPULAÇÃO: Calcula-se que de 10% a 15% das que atingem 65 anos já apresentem sinais da enfermidade. Daí em diante, a prevalência cresce 3% ao ano, até atingir quase 50% das que chegam aos 85 anos. Estima-se que, no mundo, haverá 22 milhões de portadores desse mal em 2025. Certas famílias apresentam prevalência mais alta da doença de Alzheimer, mas podem surgir casos esporádicos da doença em famílias que nunca os apresentaram. Cerca de 10% a 60% dos pacientes com histórico familiar da doença apresentam instalação precoce e evolução rápida dos sintomas. Neles, foram descritas mutações de genes presentes nos cromossomos 1 e 14. Nas formas de Alzheimer que se instalam mais tardiamente, parece estarem envolvidos outros genes, ligados à apolipoproteína E, envolvida no transporte de colesterol e na reparação de defeitos celulares.



EVOLUÇÃO DA DOENÇA: A doença de Alzheimer costuma evoluir de forma lenta e inexorável. A partir do diagnóstico, a sobrevida média oscila entre 8 e 10 anos. O quadro clínico costuma ser dividido em quatro estágios: Estágio 1 (forma inicial): Alterações na memória, personalidade e nas habilidades visuais e espaciais; Estágio 2 (forma moderada): Dificuldade para falar, realizar tarefas simples e coordenar movimentos. Agitação e insônia; Estágio 3 (forma grave): Resistência à execução de tarefas diárias. Incontinência urinária e fecal. Dificuldade para comer. Deficiência motora progressiva; Estágio 4 (terminal): Restrição ao leito. Mutismo. Dor à deglutição. Infecções intercorrentes.

QUADRO ANATOMO-PATOLÓGICO: Os doentes apresentam cérebros atrofiados de forma difusa, mas não uniforme; as áreas mais atrofiadas são principalmente as que coordenam atividades intelectuais.
Ao microscópio notam-se perda de neurônios e degeneração das sinapses. Duas alterações patológicas dominam o quadro: as placas senis e os emaranhados neurofibrilares. Placas senis são formadas pelo depósito de uma proteína (beta-amilóide), no espaço existente entre os neurônios. Já, os emanharados neurofibrilares são formados por uma proteína (tau) que se deposita no interior dos neurônios. As alterações cerebrais precedem as manifestações clínicas por 20 a 40 anos.

QUADRO CLÍNICO: A doença se instala de forma insidiosa, com queixas de dificuldade de memorização e desinteresse pelos acontecimentos diários, sintomas geralmente menosprezados pelo paciente e familiares. Inicialmente é comprometida a memória de trabalho, memória de curta duração que nos permite exercer a rotina diária. Os pacientes esquecem onde deixaram as chaves do carro, a carteira, o talão de cheques, o nome de um conhecido. Com o tempo, a pessoa larga as tarefas pela metade, esquece o que foi fazer no quarto, deixa o fogão aceso, abre o chuveiro e sai do banheiro, perde-se no caminho de volta para casa. Caracteristicamente, esses “esquecimentos” se agravam quando o paciente é obrigado a executar mais de uma tarefa ao mesmo tempo. A perda de memória é progressiva e obedece a um gradiente temporal, segundo o qual a incapacidade para lembrar fatos recentes, contrasta com a facilidade para recordar o passado. As primeiras habilidades perdidas são as mais complexas: manejo das finanças, planejamento de viagens, preparo de refeições. A capacidade de executar atividades mais básicas como vestir-se, cuidar da higiene ou alimentar-se, é perdida mais tardiamente.
Com o tempo a dificuldade de aprendizado se acentua. Quando colocamos o paciente diante de uma lista de palavras e pedimos que as evoque ao terminar de memorizá-las, o desempenho é medíocre. A linguagem, comprometida discretamente no início do quadro, torna-se vazia, desprovida de significado, embora a fluência possa ser mantida. A orientação espaço-visual se deteriora, criando dificuldade de orientação e de reconhecimento de lugares anteriormente bem conhecidos.
O quadro degenerativo se estende às funções motoras. Andar, subir escadas, vestir-se, executar um gesto sob comando, tornam-se atividades de execução cada vez mais problemática.
A percepção das próprias deficiências, preservada no início, fica gradualmente comprometida. Na fase avançada, mutismo, desorientação espacial, incapacidade de reconhecer faces, de controlar esfíncteres, de realizar as tarefas de rotina, pela alteração do ciclo sono/vigília e pela dependência total de terceiros são sintomas característicos da doença Dos primeiros sintomas ao óbito a sobrevida média é de 6 a 9 anos.

TRATAMENTO MEDICAMENTOSO: O processo degenerativo na doença de Alzheimer leva à deficiência de diversos neurotransmissores, moléculas que atuam na condução dos estímulos nervosos transmitidos de um neurônio para outro. Hoje, procuramos corrigir esse déficit com dois grupos de drogas: os inibidores das colinesterases e os antagonistas dos receptores de glutamato.
A acetilcolina é um neurotransmissor importante nos mecanismos de memória e aprendizagem. Na doença de Alzheimer, como conseqüência da degeneração dos neurônios, ocorre redução da atividade da acetilcolina por ação de enzimas que a degradam. Essa perda de atividade está associada ao declínio cognitivo. Embora várias drogas estejam sendo testadas, atualmente, o tratamento mais eficaz se baseia na utilização das que inibem a ação enzimática responsável pela degradação da acetilcolina (inibidores da acetilcolinesterase). Esses medicamentos têm eficácia documentada, e estão indicados no tratamento das formas leve ou moderada, com a finalidade de ajudar os pacientes a manter a habilidade de executar as atividades de rotina por mais tempo e de preservar a capacidade de relacionar-se com os familiares e amigos.

RESPOSTA AO TRATAMENTO: A doença é incurável. O objetivo da terapêutica é retardar a evolução e preservar por mais tempo possível as funções intelectuais. Os melhores resultados são obtidos quando o tratamento é iniciado nas fases mais precoces. Numa doença que progride inexoravelmente, nem sempre é fácil avaliar resultados. Por essa razão, é fundamental que os familiares utilizem um diário para anotar a evolução dos sintomas. A memória está melhor? Os afazeres diários são cumpridos com mais facilidade? O quadro está estável? O declínio ocorre de forma mais lenta do que antes da medicação? Sem essas anotações fica impossível avaliar a eficácia do tratamento.

EFEITOS COLATERAIS: As drogas pertencentes ao grupo dos anticolinesterásicos podem provocar sintomas gastrointestinais, circulatórios e alterações relacionadas com o sistema nervoso central. Na maioria das vezes, esses efeitos indesejáveis são passageiros, de curta duração e podem ser controlados ou desaparecer quando o médico reajusta as doses. Em caso de toxicidade, entre em contato com seu médico. Não suspenda o tratamento por conta própria.
DURAÇÃO DO TRATAMENTO: Uma vez iniciado, o tratamento precisa ser reavaliado pelo médico ao completar um mês, mas deve ser mantido obrigatoriamente por um período mínimo de 3 a 6 meses, para que se possa ter idéia da eficácia. Enquanto a resposta for favorável, o medicamento não deve ser suspenso.

MITOS SOBRE ALZHEIMER: O maior deles é, Alzheimer = a perda de memória. Algumas pessoas preocupam-se em ter Alzheimer só pelo fato de esquecerem certas coisas. Para a confirmação da doença é necessário muita pesquisa, uma rigorosa avaliação do paciente, que deve ser feita por um especialista no assunto e esta confirmação é feita pelo descarte de outras doenças já que a única forma de chegar a um diagnóstico conclusivo seria através de biópsia do tecido cerebral que não é realizada pelos riscos implicados. E somente a exclusão de determinadas doenças que apresentem os mesmos sintomas - falta de memória, agressividade, depressão, agitação -, que podem ser facilmente confundidas com esquizofrenia, deficiências vitamínicas, câncer, diabetes, problemas na tireóide, infecções urinárias, sífilis crônica, meningite etc., poderá fornecer um "provável" diagnóstico positivo.
Mas é preciso prestar atenção no conjunto de atitudes. Não se apegar somente a falta de memória. Perda de memória rápida é comum em casos de estresse diário. Nada que uma boa noite de sono não cure.

MUDANÇAS IMPORTANTES: A casa, a mobília e os costumes das pessoas mudam conforme os acontecimentos da vida. “A chegada de um bebê, por exemplo, transforma a rotina da casa e a decoração, além de exigir muita atenção. Com os idosos, não é diferente. Eles precisam de condições especiais para que vivam com conforto e segurança”. Esses cuidados aumentam quando o idoso é portador da doença de Alzheimer (DA), uma doença degenerativa e progressiva que atinge o cérebro e resultando, inicialmente, na perda da memória. No estágio mais grave, a doença pode comprometer totalmente o paciente e levá-lo à morte. Deve haver proteção em escadas e janelas, tapetes e cortinas devem ser retirados para evitar quedas e tornar o ambiente mais arejado e claro, retirar espelho se a pessoa chegou a uma fase em que se confunde com o reflexo devido a perda de referência pessoal, ficar sempre atento a itens de risco na cozinha como facas, garfos, botijão de gás, dentre outras atitudes.

“ACIMA DE TUDO RESPEITAR A PESSOA PORTADORA DE ALZHEIMER QUE, MESMO NÃO SE RECONHECENDO ENQUANTO PESSOA, É UM SER HUMANO DIGNO DE BOAS ATITUDES.”

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