29 abril 2011

Azul da morte




No princípio era a cor. E a cor era azul. Azul!
Azul desejado, reverenciado, procurado à exaustão, como metáfora da irreal e fugaz felicidade.
Azul desbotado. Azul das fases geniais dos mestres da pintura.
Que sonho as bailarinas azuis de Degas! Azul néon das ruas, de jeans, índigo blue.
Azul de tudo bem, tudo azul. Azul da cor do céu. Azul da cor do mar.
Azul pertinho e azul de longe, muito longe, anos luz de azul.
Azul dos olhos de Sinatra e da esplendorosa visão de Neil Armstrong, que pisou na lua e balbuciou: a Terra é azul.
Azul de sonho, de luz de palco, de momentos de combustão na chama.
Azul de césio-137, azul de ciência encapsulada, azul de letal segredo violado...
(Cida Almeida)


Não deve ser fácil explicar como funciona um transistor, um antibiótico ou um aparelho de raios X. Seja como for, as pessoas usufruem dos três sem fazer muitas perguntas, satisfeitas com o fato de eles simplesmente funcionarem – ou quase sempre.
Essas são tecnologias familiares, fazem parte de nosso dia a dia e, embora haja riscos associados a sua fabricação e uso, não os percebem ou os ignoram, porque consciente ou inconscientemente avaliam que seus benefícios superam os riscos.
Acidentes nucleares, por exemplo, acidentes de radiação, são felizmente muito raros e, portanto, sempre pegam a população desprevenida, como qualquer evento que tenha baixa probabilidade e alto risco.
Indivíduos caminham corriqueiramente em busca de atendimento em clínicas sem as informações essenciais em torno dos aspectos nos quais baseiam-se seus tratamentos. Pessoas, às vezes à procura de um tesouro inencontrável que modifique magicamente sua vida carente econômica e afetivamente, seja nos lixões de muitas cidades, em ferros velhos, em escombros de casas abandonadas, deparam-se com alto perigo pelo desconhecimento a respeito dos muitos materiais encontrados para comercialização.
Dessa forma aconteceu um acidente radioativo no Brasil em 1987. A discreta capital de Goiás, no centro do Brasil, colocava em evidência o protagonista daquele episódio, uma cápsula violada de césio 137, que, negligentemente abandonada, indevidamente removida, imprudentemente aberta e inadvertidamente manipulada, espalhou o terror entre uma população que nem desconfiava da existência de tal risco tão próximo de seus lares.
Antes de setembro de 1987, a ideia de um acidente nuclear em território brasileiro era uma possibilidade remota envolvendo, no máximo, especulações pessimistas sobre as usinas de Angras dos Reis, no Rio de Janeiro ou, talvez, o IPEN, Instituto de Pesquisas de Energia Nuclear da Universidade de São Paulo, onde existe um pequeno reator atômico destinado a pesquisas. Surpresa e tragédia vieram de lugar e modo completamente inesperados.
No abalo causado pelas quatro mortes e dezenas de vítimas graves, o césio 137 passou a ser visto como um perigoso assassino, por conta de uma desastrosa sucessão de erros que levou à remoção daquele estranho material de belo brilho azulado da segurança de seu invólucro de chumbo, onde foi enclausurado para cumprir a missão de ajudar a salvar vidas, não tirá-las.
Diante dos mistérios insondáveis da contaminação que irradia e da irradiação que não contamina, os goianos cunharam na época uma expressão amalgamadora e, de certa forma, definitiva: quem era dito como irradiado (condenado, amaldiçoado) e/ou contaminado (condenado que pode transmitir a maldição), portanto, deveria ser riscado do convívio social. E assim foi em Goiânia, por mais injusto que possa parecer.
Vinte anos é tempo suficiente para embalar o esquecimento. Pouco se fala do acidente, que teve um enredo tão difícil de acreditar que nem o mais inventivo autor de ficção científica ousaria imaginá-lo.
Acidente do descaso e da ignorância. Descaso porque todas as pessoas e instituições que deveriam zelar pela guarda e segurança daquele aparelho falharam. E acidente da ignorância porque a maioria esmagadora das pessoas desconhecia os perigos da radiação e nem poderiam suspeitá-lo tão perto, ao alcance da mão.
A peça foi aberta a marretadas em um ferro-velho na região central de Goiânia e a cápsula de césio violada. A pastilha de césio, que emitia uma luz azul brilhante, começa a ser distribuída em pedaços, pequenas pedrinhas, entre vizinhos e amigos curiosos. Tem gente que levou pra casa no bolso da calça.
Com a violação do equipamento (fonte com radioatividade de 50.9 TBq -1375 Ci- que continha cloreto de césio, composto químico de alta solubilidade. O 137Cs, isótopo radioativo artificial do Césio com comportamento, no ambiente, semelhante ao do potássio e outros metais alcalinos, podendo ser concentrado em animais e plantas, de meia vida física 33 anos), foram espalhados no meio ambiente vários fragmentos de 137 Cs, na forma de pó azul brilhante, provocando a contaminação de diversos locais, especificamente naqueles onde houve manipulação do material e para onde foram levadas as várias partes do aparelho de radioterapia.
Outros inventaram brincadeiras lúdicas com aquele pó que brilhava na escuridão, como Ivo Alves Ferreira (já falecido), pai da menina Leide das Neves. Os dois espalharam o pó, apagaram as luzes, e sonharam com uma cidadezinha de fantasia brilhando na noite daquele setembro de 1987, tamanho o fascínio da luz azul emitida pelo césio-137.
Por conter chumbo, material de valor financeiro, a fonte foi vendida para um depósito de ferro-velho, cujo dono a repassou a outros dois depósitos, além de distribuir os fragmentos do material radioativo a parentes e amigos que por sua vez os levaram para suas casas.
Foram necessários 16 dias para perceberem que a substância estava deixando um monte de pessoas doentes. Durante esse tempo, a contaminação só se espalhava. Após o desastre, os trabalhos dedescontaminação produziram 13,4 toneladas de lixo radioativo entre roupas, utensílios, plantas, animais, restos de solo e materiais de construção. Tudo isso foi armazenado em cerca de 1200 caixas, 1900 tambores e 14 contêineres, guardados em um depósito construído na cidade de Abadia deGoiânia, a 24 quilômetros da capital – e lá deve ficar por pelo menos 180 anos.
“O brilho da morte”, como o césio foi chamado por Devair Alves Ferreira, primeira pessoa a entrar em contato direto com o elemento, fez centenas de vítimas. Quatro morreram cerca de um mês após a exposição. Entre elas, uma criança de 6 anos, Leide das Neves, considerada a maior fonte humana radioativa do mundo. Atualmente, as vítimas reclamam do descaso do governo, afirmando que estão sem assistência médica e medicamentos.
O governo nega a acusação e afirma que as vítimas usam o acidente para justificar todos os seus problemas de saúde. Em 1996, a Justiça condenou, por homicídio culposo, três sócios e um funcionário do hospital abandonado a três anos e dois meses de prisão. Mas as penas foram trocadas por prestação de serviços.
A fonte radioativa foi removida e manipulada indevidamente no dia 13 de setembro, porém o acidente radioativo só foi identificado como tal no dia 29 do mesmo mês, quando foi feita a comunicação à Comissão Nacional de Energia Nuclear –CNEN, que notificou a Agência Internacional de Energia Atômica –AIEA.
Foi acionado um plano de emergência do qual participaram CNEN, Furnas Centrais Elétricas S/A –FURNAS, Empresas Nucleares Brasileiras S/A -NUCLEBRÁS, DEFESA CIVIL, ala de emergência nuclear do Hospital Naval Marcílio Dias –HNMD, Secretaria Estadual de Saúde de Goiás – SES/GO, Hospital Geral de Goiânia –HGG, além de outras instituições locais, nacionais e internacionais que se incorporaram ou auxiliaram a “Operação Césio-137”.
As primeiras providências foram identificar, monitorar, descontaminar e tratar a população envolvida; as áreas consideradas como focos principais de contaminação foram isoladas e iniciou-se a triagem de pessoas no Estádio Olímpico. A descontaminação dos focos principais foi feita removendo-se grandes quantidades de solo e de construções que foram demolidas. Ao mesmo tempo era realizada a monitoração para quantificar a dispersão do 137Cs no ambiente, além de análise de solo, vegetais, água e ar.
No total, foram monitoradas 112.800 pessoas, das quais 249 apresentaram significativa contaminação interna e/ou externa, sendo que em 120 delas a contaminação era apenas em roupas e calçados, sendo as mesmas liberadas após a descontaminação. Os 129 que constituíam o grupo com contaminação interna e/ou externa passaram a receber acompanhamento médico regular.
Destes, 79 com contaminação externa receberam tratamento ambulatorial; dos outros 50 radioacidentados e com contaminação interna, 30 foram assistidos em albergues, em semi-isolamento, e 20 foram encaminhados ao Hospital Geral de Goiânia; destes últimos, 14 em estado grave foram transferidos para o Hospital Naval Marcílio Dias, no Rio de Janeiro, onde quatro deles foram a óbito, oito desenvolveram a Síndrome Aguda da Radiação - SAR -, 14 apresentaram falência da medula óssea e 01 sofreu amputação do antebraço. No total, 28 pessoas desenvolveram em maior ou menor intensidade, a Síndrome Cutânea da Radiação (as lesões cutâneas também eram ditas “radiodermites”).
Os casos de óbito ocorreram cerca de 04 a 05 semanas após a exposição ao material radioativo, devido a complicações esperadas da SAR - hemorragia (02 pacientes) e infecção generalizada (02 pacientes).
Vinte anos é tempo suficiente para embalar o esquecimento. Pouco se fala do acidente, que teve um enredo tão difícil de acreditar que nem o mais inventivo autor de ficção científica ousaria imaginá-lo. Acidente real que nos dias de hoje ainda afeta a população goiana, senão pelos males físicos e de saúde ocasionados, pelas consequências psicológicas em indivíduos vítimas do césio e do preconceito humano.

ALGUNS DEPOIMENTOS DE VÍTIMAS E PESSOAS PRÓXIMAS

DEPOIMENTO 1
“A única vez que vi o césio foi em 26 de setembro. Meu irmão me mostrou a pedra e perguntou se ela poderia ser usada para fazer um anel. Peguei um pedaço menor que um grão de arroz e esfreguei na palma da mão. Como era dia, não havia nenhum brilho. Ela mais parecia um pedaço de cimento. Oito dias depois, minhas mãos começaram a coçar e incharam. Sentia tonteiras e náuseas. Um dia, a polícia chegou a nossa rua e começou a isolar as pessoas no estádio Olímpico. Só aí descobri que aquela pedra era radioativa. Sabia o que era isso – o acidente de Chernobyl tinha acontecido um ano antes. A população entrou em pânico. Todos achavam que estava acontecendo o mesmo em Goiânia. Fui a última vítima a ser isolada. Vi meus irmãos entrarem no avião e serem enviados ao Rio de Janeiro para fazerem um tratamento intensivo. Quando saímos do hospital, as pessoas nos tratavam como se tivéssemos uma doença contagiosa. As vítimas do césio eram apedrejadas. Tive que mudar meus filhos de escola duas vezes. Hoje, mesmo que quisesse esquecer o que aconteceu, não me deixariam. Sempre tem alguém que me lembra de 20 anos atrás.”
(Odesson Alves Ferreira, 52 anos, presidente da Associação das Vítimas do Césio 137)

DEPOIMENTO 2
“Naquele dia, dei uma bronca no Ivo (irmão de Devair) porque ele não tinha ido vê-lo, e meu cunhado e a Maria Gabriela estavam doentes. Quando ele voltou, já trazia o césio no bolso, achando que alegraria todos. Depois de tocar no césio, minha filha Leide foi comer um ovo que preparei para ela, que andava ruinzinha para comer. Não notei que ela não tinha lavado a mão, mas achei estranho a cor escura do caldo que escorria entre os dedos que seguravam o ovo, e acabei dando uma bronca. Mas já era tarde. A partir dessa noite ela arroxeou a boca. Poucos dias depois morreu. O efeito físico que sofri do acidente? Essa ferida no coração.”
(Lourdes das Neves Ferreira, 50 anos)


DEPOIMENTO 3
“Morava perto do meu tio Devair. Quando a gente foi visitá-los, a PM tinha isolado tudo. Fui no estádio e vi minha tia Maria Gabriela. Quando pedi a mão para pedir uma benção, um PM barrou e disse que não podia. Fui parar na Febem também. Um dia, nós, as crianças que estavam presas na Febem, fomos matar o tempo lavando o chão, mas acabamos contaminando os pés de novo. Lavei os meus com tanta força que saiu sangue. O médico ficou assustado e disse: ‘Não precisava fazer assim, minha filha’, mas valeu porque tive alta. Jamais vou esquecer do meu cãozinho que a CNEN matou a machadadas. Eu tinha dez anos, hoje só tenho pensão da União. O Estado não me reconhece. Tenho pressão alta e já sofri dois abortos.”
(Gislene Regina Bastos, 25 anos)

DEPOIMENTO 4
“Hoje estou aposentado por doença, mas na época era da ativa, na Companhia de Trânsito do 1o Batalhão da PM, quando me chamaram onde estava de serviço, entre a Rua 4 e a Avenida Goiás, no Centro, para isolar uma área com vazamento de gás. Ficamos no fundo do Mercado Popular até que chegaram os homens da CNEN, de macacão e tudo. Eles afastavam os cavaletes e onde a gente estava e, cada vez que o aparelho disparava, mandavam a gente ir embora tomar anho de sabão e vinagre. Mas minha roupa a gente lavava em casa. Hoje sofro com gastrite, artrite, já fiz cinco cirurgias no joelho e tomo remédio para depressão.”
(Eliaquim da Costa Aquino, 38 anos)

DEPOIMENTO 4
“Eu era chefe da Fiscalização de Alimentos da Vigilância Sanitária na época. Fazia o controle de alimentos durante o Grande Prêmio de Motociclismo, quando a Maria Gabriela levou a cápsula dentro de um saco de náilon. Ao retornar, apurei a situação e fiz contato com um amigo da Nuclebrás. Ele passou um cintilômetro na minha roupa e o aparelho sinalizou: eu estava com césio na roupa. Fui em casa trocá-la, e depois segui com ele rumo ao ferro velho. Mas na Avenida Anhangüera, o cintilômetro disparou ao máximo. Ele se recusou a prosseguir, recomendando acionar a CNEN. A discriminação era tanta que um dia me deparei com esse colega medindo a porta de minha casa. Acho que a CNEN até orientou as pessoas na época, só que não deu apoio psicológico. Não tenho nenhuma doença.”
(Rosa Bento Gonçalves, 42 anos)

DEPOIMENTO 5
“Eu tocava um bar na 15-A, e lembro que estava indo comprar carne quando vi o Ernesto indo para a mãe dele, mas não liguei. À noite vi na televisão o Devair sendo entrevistado e a polícia fechando tudo. Dias depois a CNEN veio e raspou o chão do bar. Tive muitas complicações de saúde depois do acidente: um caroço na viirilha, pressão alta, inchaços, manchas na perna que lembram erizipela, dores ósseas e coloquei três pontes de safena. Nunca tive direito à pensão. Há cerca de dez anos procurei a Suleidel, mas eles se recusaram a tratar de mim. De um ano pra cá passei a ter direito a médico, mas os remédios para o coração e a pressão, não.”
(Débora Velasco Lemes, 66 anos)

DEPOIMENTO 6
“Quando eu cheguei na casa do meu filho Devair, que já estava passando mal vi aquela peça perto da cozinha, vi o reflexo azul. No dia, fui com minha neta Tatiane que só tinha 4 meses. Meu corpo inchava por causa da radiação. Foi um terror pra mim ver todos os meus filhos (Devair, Ivo, Odesson), minha nora e minha neta, todos doentes. Meu marido morreu há cinco anos, abalado por essa tragédia. Ele foi parando de comer. Às vezes as pessoas corriam da gente, de medo. Eu era lavadeira de roupa na época. Hoje vivo com as duas pensões, uma de R$ 130,00 (União) e a outra de um salário mínimo (Estado).”
(Maria Abadia Motta, 73 anos)

DEPOIMENTO 7
“Me lembro da Maria Gabriela levando uma Coca- Cola em uma sexta-feira, na Vigilância Sanitária, onde eu fazia os registros. Ela achava que o refrigerante estava estragado e fazendo mal a todos. Fiz o registro, mas nem deu tempo de fazer o exame. ela voltou na segunda com a cápsula e tudo foi descoberto. Nossa colega Maria das Graças Vieira morreu de câncer depois disso. Hoje tenho gastrite e queda de cabelo constante. Um dia a Diretora do Posto de saúde do Setor Rodoviário tentou me impedir de entrar para vacinar minha filha. A discriminação vinha de todos os lados. Como a Vigilância foi interditada a CNEN não passou o aparelho para me medir. Quanto à Suleidel, estou satisfeita, mas acho que pode melhorar.”
(Dulce Helena Silveira dos Santos, 46 anos)

DEPOIMENTO 8
“Um dia antes do acidente, meu pai pressentiu algo estranho quando passou em frente ao ferro-velho. Meu irmão costumava ir lá, e nesse dia pegou uma linha de tricô. Nosso cachorro foi com ele e comeu algo. No dia seguinte, morreu. A CNEN levou o corpo do cão. Onde ele tinha deitado foi detectada radiação, aí eles arrancaram os pés-de-goiaba que tinha no quintal. Como os técnicos demoraram para voltar, meu pai acabou raspando a terra do local, sozinho. Minha irmã tem uma alergia severa e nefrite, outra tem problema na tireóide e uma hérnia no umbigo aos 22 anos. Minha mãe tratou um caroço no braço, que voltou. Meu filho também nasceu com uma mancha de sangue na cabeça. A gente não consegue entender essas coisas. Ninguém explica direito.”
(Patrícia Soares de Souza, 27 anos)

DEPOIMENTO 9
“Fui com minha sogra, Maria Gabriela, na casa do Devair e da Maria, quando eles começaram a passar mal. Limpei a casa, fiz um remédio para eles beber e fui embora. Dois dias depois, a notícia correu. Lembro que a dona Maria Gabriela foi de táxi para Inhumas, onde passou mal e foi internada em um hospital. Desse hospital, a CNEN arrancou pedaços, o táxi também foi descontaminado. Já tive gastrite, dores de cabeça, sofri queda de cabelo e meus dentes ficaram fracos. Minha filha tem um tumor ósseo no menisco e sofre com dor de estômago. Na época, um açougueiro recusou meu dinheiro, não esqueço disso. Levei de graça, mas no meu dinheiro ele não colocou a mão. Não tenho pensão alguma e, se a CNEN me mediu, foi porque fomos espontaneamente ao ginásio. Na Suleide, fui há muito tempo para examinar os meninos, mas não consegui nada.”
(Natalina das Graças Neves, 47 anos)

DEPOIMENTO 10
“Meu filho Odesson Júnior foi visitar a tia Maria Gabriela, e voltou contaminado. Os móveis, roupas e cerâmica que a CNEN levou, nunca devolveu iguais. Sofro de muitos problemas. Tenho angústia, depressão, um forte mau hálito que não passa, obesidade, dores de cabeça muito fortes, tonteira, nervosismo. Até tomo calmante. Dos meus filhos, o médico falou que um tem uma lesão no cérebro. O mais velho escarra sangue com frequência. O filho dele teve convulsão e um derrame aos nove meses de idade que deixou sequela. O outro nasceu com a face torta e o mais novo, com anemia. Também tenho um filho de seis anos com obesidade infantil. Sofremos muito na época, os vizinhos tentaram incendiar nossa casa, jogaram pedras. Quando a CNEN colocou os tambores amarelos na nossa porta, marcou a gente para sempre. Hoje recebo as duas pensões, que somam R$ 330,00. Depois do acidente, não sei nem onde fica a CNEN. Eles são gentis, mas não explicam as coisas direito para a gente.”
(Maria José Aparecida Ferreira, 45 anos)


Informações são adaptação de:
Comissão Nacional de Energia Nuclear – CNEN (1988): Relatório do Acidente Radiológico em Goiânia.

da Cruz AD (1997): Monitoring the Genetic Health of Humans Accidentally Exposed to Ionizing Radiation of Cesium-137 in Goiânia (Brasil).

Fundação Leide das Neves Ferreira – FUNLEIDE (1989): História do Acidente Radioativo com o Césio-137 – Relatos.

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