21 novembro 2011

Perdem-se noites e não esperanças




‎"De grão em grão a galinha enche o papo?" (Diz o ditado popular)
"Perdendo noite após noite, o estudante de Medicina se enche de olheiras." (Diz o ditado mais verdadeiro da Medvida)
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A verdade é que ganhando ou perdendo noites, vivendo ou não a vida lá fora, há uma vida no quarto que de certa forma escolheu pessoas para mais cedo ou mais tarde serem estudantes de Medicina e futuros Médicos. Isso mesmo, escolheu! E menciono dessa forma, por estar certa que pessoas que escolhem, se o faze por fazer, não toleram, não são capazes de deixarem de ser indivíduos dotados de necessidades físicas e emocionais para serem instrumentos sedentos por conhecimento, por ciência, por vida que, por mais que não seja a sua, atrai, conquista.
Para tal não basta escolher, é essencial ser escolhido, não por dom, mas por dedicação...
O estudante de Medicina esquece que amigos saem para baladas ou, se lembra-se, o faz apenas para desejar belas noites e permanece na maioria das suas entre letras que a certa hora dançam e fazem dançar.
Sabe que há uma família lá fora em algum lugar, mas por dias consecutivos encontra os seus somente nos sonhos bons, sonhos cochilados sobre as páginas.
O estudante de Medicina abdica de si, conquista troféus que são exibidos nos olhos cansados e decorados...
E ainda assim não desiste, não se arrepende da escolha que o encontrou, escolha aceita!
Ainda assim, escolhe ser dia e noite, mesmo que lhe arda os olhos!
Ainda assim, com a história dita nos olhos e na postura tênue, continua MedSer!
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Semanas de provas difíceis, olho para os lados e me vejo espelho de colegas que como eu arrastam-se por corredores de tão cansados que já estão e o mais incrível é que, mesmo sem poder localizar em tempo e espaço o dia em que cada um conseguiu ter uma boa noite de sono, mesmo sem previsão para a chegada do instante em que o sono poderá ser abraçado e aconchegado entre panos e colchão, percebe-se felicidade no ar. Não há arrependimento, não existe reclamação qualquer, não percebe-se lamento.
O coração abraçou a escolha que um dia fará a diferença na vida de muitos e isso importa. Viveremos assim, felizes embora chorosos de saudade, desesperados com provas e provas, por alguém que, embora desconhecido, merece após encontrar conosco provavelmente em um corredor de hospital, ter saúde e ter vida de verdade, dessas nas quais é possível dormir e comer nas horas certas, amar e ser amado todos os dias sem exceções emergenciais, dessas que não passam dos limites da nossa fértil imaginação que cria e recria um mundo nosso e não deixa de desejar que seja sempre assim.
Sem reconhecimento nem agradecimento. Não é o almejo... Busca-se pulso, procura-se sinais vitais e entre eles apenas um discreto sorriso não gargalhado, manifestado apenas através do leve movimentar do canto de lábios após a cura de uma dor. Esse é o pagamento maior, são os honorários que cobrem as noites em claro ou mal e pouco dormidas, bem estudadas e sofridas de saudade.



4 comentários:

  1. Escolhas,

    Reverencio que trilha esse caminho,


    Bons estudos!

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  2. Tá aí uma profissão que é necessária mais que uma faculdade, é necessário um coração! Eu quase não venho aqui, mas eu te admiro, sabe? Não por ser estudante de medicina, é uma coisa que não me arriscaria ser. Mas te admiro por ser uma estudante de medicina que compartilha o cansaço bom de uma vida tão corrida e mesmo assim bela. Tenho certeza de que será uma profissional do coração.

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  3. Menina, me identifiquei um tanto com esse teu post! Já me revoltei de leve com a vida que somos obrigados a levar, cheia de algumas restrições e tal. Por muito tempo disse por aí que odiava a medicina, mas odiava justamente pq amo, e se amo, não posso abrir mão disso que é minha maior alegria, mas se não abro maão, sofro! É uma ciranda, né? Mas me sinto absurdamente feliz por fazer parte da medicina e pela medicina ser parte de mim!
    É isso, sigamos fortes, logo triunfaremos! E tudo pelo bem da ciência, em pró da vida! *-*

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  4. Alê, não é preciso reverenciar o trilhar deste caminho. Admire tanto quanto às outras profissões que equiparam se em beleza, dignidade e essencialidade a todos nós. A única exceção a ser reverenciada são as abdicações e olheiras compartilhadas com o pessoal da Medicina e com alguns outros profissionais, não todos.
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    Thaís, coração é a palavra. Que ele continue fazendo-me forte o suficiente para seguir em frente independente dos obstáculos que aumentam a cada dia.
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    Amor e ódio caminham juntos, vivência médica. Suprem um ao outro e contribuem ambos para a capacidade que adquirimos de lutar sempre a fim de superar as injustiças que encontramos pelo caminho que envolvem o profissional e principalmente os pacientes nossos.
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    Obrigada por partilharem seus pensamentos comigo e com alguns outros tantos leitores. A troca de palavras amigas sempre é bem-vinda e auxilia a conduta tanto aqui no blog quanto na vida.
    :D

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